MESA 1 – Saberes para a formação de professores de espanhol no Brasil
O PROFESSOR E A HISTÓRIA SOCIAL DA
LÍNGUA ESPANHOLA
Consuelo Alfaro Lagorio (UFRJ)
As atribuições de valor nos
discursos sobre línguas fazem parte do campo que se conhece como ideologias linguísticas. Os qualificativos aplicados às línguas como
variedades legítimas e/ou ilegítimas fazem parte do senso comum e são
correlatos de outra série de pré-conceitos. Do ponto de vista sociológico,
existe uma relação desta categorização com as funções que as línguas e/ou as
variantes desempenham assim como o lugar que ocupam seus usuários. Grande parte
das sociedades humanas convive com mais de uma língua, em interação, não só ao
interior das comunidades, mas com outros grupos, com exercícios de alteridade
de graus e naturezas diversas, dependendo das situações de contato em que se
encontrem. Esse tipo de relações faz parte da historia da humanidade, mas elas
são quase sempre invisíveis, pelo menos para o senso comum. No caso da expansão
da língua espanhola através da colonização, ela teve características
específicas e criou variedades linguísticas num contexto de contato marcado
pela violência. Entretanto, o fenômeno do contato linguístico não só se dá nos
territórios americanos de Estados que se reconhecem hispânicos, mas em espaços
não hispânicos e na própria Península Ibérica com não poucos conflitos. Nessa
situação, a circulação dos discursos de pureza
tem o seu contraponto na contaminação
atribuída ao contato
‘indesejável’ com essas realidades estigmatizadas e, ao mesmo tempo, essa
relação diglóssica tem a ver, entre outras, com o desempenho da escola e sua
conduta institucional ao longo da história. Assim,
a divulgação da norma deixa de lado dados relevantes em relação a sociedades e
línguas em contato. O purismo, como bandeira ou emblema de defesa e coesão
social, estigmatiza formas e falares não canônicos que fazem parte dos efeitos
desta situação sociolinguística. Nesse sentido, agora que o discurso informado
pelas ciências da linguagem ganha força nas decisões linguísticas e
educacionais das políticas públicas do Estado, é importante refletir sobre o
papel do professor de línguas. Trata-se não só de uma resposta ao
obscurantismo, mas de um aceno para a possibilidade de viabilizar formas
racionais de convivência, destacando o papel educativo da escola em relação aos
valores de tolerância e de respeito à diversidade.
SEMÂNTICA
DISCURSIVA, ESTUDOS CULTURAIS E NÃO DICOTOMIA LÍNGUA-LITERATURA EM CURRÍCULOS
MULTIDIMENSIONAL-DISCURSIVOS DE ESPANHOL
Silvana Mabel Serrani (UNICAMP)
Todos os níveis de análise linguística (fonético-fonológico,
morfológico, sintático, semântico-pragmático) são, evidentemente, fundamentais
para o estudo da materialidade linguística do espanhol, cujo conhecimento
sistêmico é obviamente indispensável para todo professor da língua. E, sem
dúvida, é crucial também o trabalho interdisciplinar. Mas, nesta exposição me
concentrarei em um dos níveis da análise linguística, o semântico, por ser às
vezes negligenciado ou reduzido à dimensão literal do sentido ou, apenas, à sua
dimensão referencial. Como é sabido, entretanto, a dimensão argumentativa e o
jogo de implícitos socioculturais estão sempre presentes e imbricados em
processos discursivos, produzidos nos diferentes gêneros de expressão verbal.
Assim, meu foco neste Fórum de homenagem à colega Consuelo Alfaro, que tanto
tem contribuído para a pesquisa da dimensão pragmática e sociocultural da
língua espanhola, será tratar dessa dimensão, considerando uma proposta
multidimensional-discursiva para a base de currículos, cursos ou aulas de
espanhol no Brasil. A discussão teórico-metodológica estará ancorada em
exemplos de poesia hispano-americana, procurando ilustrar a implementação da
premissa da não dicotomia língua-literatura na abordagem de temas linguísticos
e dos Estudos Culturais. A meu ver, estas questões requerem maior atenção na
formação de professores de espanhol no século XXI, se almejarmos a consolidação
efetiva e a construção de novas pontes culturais entre o Brasil e o mundo
hispânico.
MESA 2 – Estudos linguísticos e Escola
(IM)POSSIBILIDADE DE DIÁLOGOS?
A FORMAÇÃO DE DOCENTES PARA O ENSINO
BÁSICO NA UNIVERSIDADE: ENTRE OS SABERES ACADÊMICOS E OS SABERES ADVINDOS DA
EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL
Del Carmen Daher (UFF, CNPq)
Cabe à universidade problematizar as práticas de
formação docente, uma vez que é de sua responsabilidade a autorização para o
exercício do trabalho na Educação Básica. Nossa intervenção tem como objetivo discutir
questões relacionadas à formação de profissionais da língua estrangeira (em
especial de E/LE) e sua vinculação a exigências intrínsecas ao trabalho no
ensino básico. De modo a enfocar (im)possibilidades de diálogo entre saberes
acadêmicos e saberes da experiência. Faz-se necessário cada vez mais entender a
licenciatura para além da aquisição de saberes acadêmicos, entendê-la, também,
a partir de estudos advindos do mundo do trabalho. Nossas considerações
vinculam-se a estudos desenvolvidos junto ao GT Anpoll Enunciação, linguagem e trabalho e aos grupos de pesquisa PRÁTICAS de Linguagem, trabalho e formação
docente (UFF), Práticas de linguagem e Subjetividades - PraLinS (UERJ) e Atelier-Linguagem e trabalho (LAEL-PUC/SP). Os aportes teóricos
adotados consideram a noção de práticas discursiva, as condições de
enunciabilidade (FOUCAULT, [1969]2007), pelo viés discursivo enunciativo
(MAINGUENEAU, 1984, 1987, 2000). Consideram, ainda, contribuições advindas de
uma concepção ampliada de situação de trabalho (ROCHA, DAHER, SANT´ANNA, 2002),
de inspiração ergológica (SCHWARTZ, 1998, 2000).
DIÁLOGOS
ENTRE SABERES ACADÊMICOS E SABERES ESCOLARES
Cláudia Estevam Costa (CPII)
Nessa comunicação pretende-se discutir a correlação entre os
saberes teóricos do professor, em que o foco está na universidade, e a prática
docente, onde o contexto é a escola, levando-se em conta a especificidade da
ação educativa numa perspectiva que considere a possibilidade de um discurso
que inclua a epistemologia da prática docente (Develay,1995). Busca-se, diante
dessas considerações, debater de que maneira seria possível estabelecer um
diálogo mais efetivo entre a escola e a universidade, de forma a não descrever
a formação continua do professor de escola básica como uma simples transposição
didática do saber científico de referência, mas relacionando-o a uma dimensão
social, cultural e histórica (Develay,1995, Goodson,1998; Lopes,1999). Para
demarcar a proposição do estudo, que inter-relaciona linguagem e trabalho
propõe-se como enfoque teórico, além dos estudos do campo das políticas de
currículo, a perspectiva dialógica de linguagem, os estudos em análise do
discurso na sua vertente pragmático-enunciativa (os estudos em Análise do
Discurso, em particular: Maingueneau, 1993, 1998/2002).
EDITAL
PNLD 2011: SENTIDOS DE DOCÊNCIA, ENSINO E LÍNGUA
Renato Pazos Vazquez (CTUR-UFRRJ)
Esta comunicação objetiva analisar sentidos que emergem no Edital
de Convocação do PNLD 2011, material que prescreve as especificações jurídicas
e didáticas do processo, de Língua Estrangeira Moderna, mais especificamente,
Língua Espanhola e, em seguida compará-lo ao de Língua Portuguesa para
verificar sentidos relativos a visão de língua e trabalho docente. Para tal
apóia-se em uma perspectiva dialógica da linguagem (BAKHTIN, 2003) conjugada ao
aporte da Análise do Discurso de base enunciativa (MAINGUENEAU, 2009). Em um
primeiro momento busca-se compreender o LD (CORACINI, 1999; GATTI JUNIOR, 2004;
FECCHIO, 2007) como material presente nas salas de aula ao longo da história e
sua relação com o professor, principalmente, de língua estrangeira, Em seguida,
discutem-se as influências do PNLD na constituição do currículo escolar (LOPES
& MACEDO, 2011) sob a discussão política (HALL, 1997) e de poder (FOUCAULT,
2011). A partir das análises da seção do Edital destinada à descrição
pedagógica da Língua Estrangeira Moderna (LEM) , chega-se a três enunciadores:
enunciador-legitimador, em que sentidos valorativos são agrupados para
justificar a presença da LEM como disciplina do PNLD; enunciador-especialista,
que se subdivide em ideias conservadoras e progressistas sobre o ensino de
línguas estrangeiras, pois busca, ora reiterar uma tradição de ensino de
línguas, ora romper com ela; enunciador-empoderador do LD, que atribui valor de
verdade absoluta ao material didático, o que minimiza o papel do professor
dentro do espaço escolar. Em seguida fez-se uma análise comparativa com a parte
referente à Língua Portuguesa em que se destacam três categorias de análise:
perspectivas linguísticas, conceito sobre o texto e relação LD com professor.
Conclui-se que a LEM luta para legitimar-se no espaço do PNLD ainda que opere a
partir de discussões de língua e de docência que busquem fugir do
tradicionalista, nem sempre com êxito.
DISCURSO, BIOPOLÍTICA E FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE ESPANHOL
Antonio Francisco de Andrade
Júnior (UFRJ)
Neste trabalho, investigarei a importância do pensamento de Michel
Foucault para a constituição do campo da Análise do Discurso, explicitando a
articulação dos processos de disciplinarização com a produção de subjetividades
e saberes; as condições de produção do discurso e suas implicações no âmbito da
enunciação; e a noção de biopolítica como forma de indagar o modo como os
indivíduos, no seu cotidiano, incorporam e reativam, por sua própria vontade,
dispositivos vinculados ao poder. Nesse sentido, discutirei o papel dos cursos
de licenciatura em Letras Espanhol, das escolas e das políticas públicas na
formação de sujeitos, na construção da identidade profissional docente e no
desenvolvimento da reflexão crítica.
MESA 3 – Estudos linguísticos e práticas de ensino
DESNATURALIZAÇÃO E EQUIVOCAÇÃO NA
FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE E/LE NO BRASIL
Giane da Silva Mariano Lessa (UNILA)
É difícil tentar estabelecer o que deve ou não ser
estudado/ensinado, como e quando. Qualquer tipo de prescrição recai sobre
alguma normatização no ensino/aprendizagem de ELE e/ou sobre uma escolha e,
portanto, sobre alguma política linguística. Mesmo a negação de quaisquer
atitudes prescritivas é uma política. A escolha sobre o currículo é
necessariamente excludente. Não se pode traçar um repertório sobre a
aprendizagem de LE sem excluir parte daquilo que comporta os estudos
linguísticos, pedagógico etc. Advogo que a formação do professor de LE possa
levá-lo a compreender em que medida ocorrem as exclusões, as consequências de
suas escolhas, a condição política delas. Que a formação do professor possa
levar o futuro professor a refletir sobre: o fato de que a elaboração de
currículos, PCNs etc., a escolha pela própria língua espanhola fazem parte de
políticas linguísticas no ensino e na educação; as políticas linguísticas têm
uma profundidade histórica, sendo, portanto toda aprendizagem
socio-historicamente situada; políticas linguísticas se relacionam com a
diversidade normativa e cada norma tem demandas de uso social e cada uso, seu
grau de prestígio; o prestígio linguístico se dá em meio a forças de poder, que
se naturalizam. Ao professor de LE caberia, então, aprender o exercício de
desnaturalização das opções normativas feitas em meio às forças sociais.
Defendo que esse esforço é também um esforço de tradução cultural, já que a
cada norma corresponde uma cultura. Esta apresentação propõe uma reflexão sobre
a tradução cultural na formação do professor de ELE, como meio para a
compreensão da diversidade normativa, entendendo tradução como incompreensão cultural,
por meio do conceito de “equivocação” desenvolvido pelo antropólogo Viveiros de
Castro a partir de uma comparação antropológica entre culturas.
NOVAS TECNOLOGIAS, SEQUÊNCIAS DIDÁTICAS E PESQUISA-AÇÃO:
POR QUE INSERÍ-LAS NA FORMAÇÃO INICIAL DO PROFESSOR DE E/LE?
Greice da Silva Castela (UNIOESTE)
Dentre vários conteúdos relevantes para estarem presentes na
formação inicial do Professor do Espanhol como Língua Estrangeira atualmente,
optei por abordar três, descritos no título desta fala, que ainda costumam ser
muito pouco ou nada explorados na graduação. Há várias razões para este
recorte, já que: (a) há uma imensa quantidade de sites, materiais e recursos
disponíveis na Internet que podem contribuir para os letramentos dos futuros
professores e dos alunos da Educação Básica; (b) os professores não utilizam ou
subaproveitam muitos desses recursos; (c) computadores com acesso à Internet
estão disponíveis nos laboratórios de informática nas escolas; (d) os
currículos dos cursos de graduação em Letras, em geral, não abordam discussões
e propostas práticas de como utilizar as Novas Tecnologias da Informação e da
Comunicação (NTIC) de modo a colaborar com os processos de ensino e
aprendizagem; (e) os docentes possuem, muitas vezes, dificuldades de elaboração
de questões e materiais a partir da perspectiva sociointeracionista e das
sequências didáticas; (f) a pesquisa-ação não costuma ser trabalhada durante a
graduação, mas pode ser uma forma de colaborar para a reflexão sobre a prática
docente e posterior socialização de experiências bem sucedidas nas aulas. Por
tudo isso, proponho abordar nessa mesa a relevância da incorporação, na
formação inicial, de discussões e propostas práticas que abranjam o uso das
NTIC nos processos de ensino e aprendizagem, a preparação do futuro professor
para elaboração de materiais na perspectiva sociointeracionista, utilizando
sequências didáticas, e para reflexão sobre sua prática por meio da
pesquisa-ação. Dessa maneira, creio que se pode contribuir para enfrentar alguns
desafios contemporâneos da profissão e para o trabalho em sala de aula dos
futuros professores que formamos.
O
ENSINO DE ESPANHOL PARA CRIANÇAS:
UM
NOVO CENÁRIO NO ENSINO FUNDAMENTAL – ANOS INICIAIS?
Dayala Vargens (UFF)
A implementação do ensino de línguas nos anos iniciais do Ensino
Fundamental inaugurou-se recentemente nos sistemas de ensino público dos
Municípios do Rio de Janeiro e de Niterói. É para esses contextos educacionais
que se volta a presente investigação com o objetivo de iniciar reflexão no
âmbito acadêmico sobre a análise de materiais didáticos destinados aos alunos
dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Alguns motivos incentivam o
desenvolvimento desta investigação: a inexistência de um processo oficial de
avaliação de livros didáticos de línguas estrangeiras nos moldes do que ocorre
no Programa Nacional do Livro Didático-PNLD de Línguas Estrangeira Moderna nos
âmbitos dos anos finais do Ensino Fundamental (desde 2011) e do Ensino Médio
(desde 2012); a necessidade de ampliação das pesquisas voltadas para o ensino
de línguas para crianças no Brasil e a necessidade de consolidação desse objeto
de estudo na formação de professores de línguas. Como fundamentação
teórico-metodológica, a pesquisa segue a concepção dialógica de linguagem (BAKHTIN,
2000) e pressupostos da Análise do Discurso de base enunciativa (MAINGUENEAU,
2002). Além de fazer mapeamento sobre as pesquisas dedicadas no Brasil ao
ensino de línguas para os Anos Iniciais do Ensino Fundamental, nesta
apresentação, prioriza-se a análise de coleção didática utilizada atualmente na
rede de ensino público de Niterói, apontando para a necessidade de ampliação da
discussão sobre critérios utilizados na seleção dos materiais didáticos de
línguas para crianças.
MUITO ALÉM DA “METODOLOGIA”: REFLEXÕES SOBRE A PRÁTICA DE ENSINO
NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE ESPANHOL
Luciana Maria Almeida de Freitas
(UFF)
O objetivo desta apresentação é discutir questões relativas à
formação de professores de espanhol no Brasil. Mais especificamente, busca-se
problematizar o entendimento que circula acerca da prática de ensino como
“metodologia”. Será trazido ao debate o Decreto-lei 1.190/1939, que dá organização à
Faculdade Nacional de Filosofia, documento fundador do padrão de funcionamento
para os então recém-criados cursos de Letras, e que estabeleceu o formato 3+1,
ou seja, a formação do professor constituída por três anos de bacharelado,
acrescido de um ano de disciplinas pedagógicas para obtenção do diploma de
licenciatura. Com isso, marca uma perspectiva que separa teoria e prática na
formação docente e reduz a prática a um momento em que o licenciado aprenderá
uma ou mais maneiras sistemáticas para ensinar espanhol, anulando as
especificidades dos saberes desse ofício.
MESA 4 – Estudos linguísticos e estrutura informativa
SOBRE
A ESTRUTURA INFORMACIONAL DA SENTENÇA EM LÍNGUAS TIPOLOGICAMENTE PRÓXIMAS
Maria Mercedes Riveiro Quintans
Sebold (UFRJ)
Meu trabalho parte de uma noção central no que diz respeito às
línguas em questão. O português e o espanhol são línguas tipologicamente
próximas. Sobre o que se entende por ‘próximas’ e o quão próximas ou distantes
são não há ainda um consenso. Cintrão (2006) propõe que sejam “medianamente
próximas”, Kulikowski & González (1999) procuram “la justa medida de la
cercanÍa”. Fanjul (2002) também ser refere às duas línguas como próximas. O
cuidado com a escolha lexical para definir essa relação reflete uma intenção de
assumir a proximidade procurando estabelecer critérios (discursivos, sintáticos
ou de outro tipo) concretos dos quais devemos partir sejam quais forem nosso
objetivos com relação às línguas em questão. Definido o tratamento teórico que
assumo para olhar como pesquisadora as duas línguas, proponho pensar na relação
entre estrutura sintática da língua e estrutura informacional da sentença e
pensar essa relação em línguas tipologicamente próximas. A partir de um teste
de versão aplicado a aprendizes de espanhol falantes de português do Brasil,
levanto alguns aspectos relevantes que devem ser considerados na formação do
professor de língua estrangeira e que redimensionam o lugar da sintaxe nessa
formação.
FUNÇÕES INFORMATIVAS CORRESPONDENTES
ENTRE ESPANHOL E PORTUGUÊS BRASILEIRO
Paulo Pinheiro-Correa (UFF)
Dentro do quadro teórico da Gramática Discursivo-Funcional/GDF
(Hengeveld & Mackenzie 2008), herdeira, por sua vez, da Gramática Funcional
de Dik (1989, 1997), as funções informativas clássicas, tais como foco e a
dicotomia tópico-comentário se desdobram em varias categorías formalizadas, com
diferentes nuances: dois tipos de foco, o de informação nova e o de correção de
elementos da informação pragmática do interlocutor; contraste e ênfase, além de
marcos ou temas, tópicos oracionais e deslocamentos à esquerda. Nesta
participação da nossa pesquisa, apresentamos os primeiros resultados sobre
equivalências de algumas dessas funções nas variedades do português brasileiro,
falado na cidade de Belo Horizonte, e na variedade do espanhol peninsular,
falado na cidade de Madri. Para tal nos valemos da análise comparada de 30 mil
palavras de dados de interação oral não controlados de cada um dos seguintes
corpus: C-Oral Rom (Cresti & Moneglia 2005), para o espanhol madrileno e C-Oral
Brasil (Raso & Melo 2010) para o PB de Belo Horizonte. O estudo desses
elementos na interface sintaxe-pragmática acaba revelando características,
equivalências e também impossibilidades de equivalencias na sintaxe dessas duas
línguas consideradas similares.
A INTERRELAÇÃO ENTRE FATORES SEMÂNTICOS E
ENUNCIATIVOS-ARGUMENTATIVOS COMO SUBSÍDIO PARA O ESTUDO DA LÍNGUA
Adrián Pablo Fanjul (USP)
Tentando atender, do nosso lugar de reflexão, a questão que se
propõe para este Simpósio, o que precisa saber um profissional formado em
espanhol no Brasil, e a especificidade desta mesa sobre sintaxe e processo de
construção informativa, propomos-nos fundamentar a necessidade de produzir
trabalhos descritivo-explicativos que integrem determinadas categorias
semânticas com aspectos dos processos enunciativos. Cremos que essa focalização
se mostra extremadamente pertinente na comparação do funcionamento do português
brasileiro com o espanhol, bem como enseja uma abordagem do linguístico que
pode fazer com que os estudos discursivos e textuais não percam o indispensável
elo com a especificidade das materialidades das nossas línguas. Trabalharemos
em torno de dois fenômenos: as construções apresentacionais e a nominalização,
mostrando a interação das seguintes categorias: - determinação (genérica /
específica, definida / indefinida); - modalidade (deôntica, epistêmica). Fundamentaremos
a necessidade de levar em conta, em interação com os valores para essas
categorias, dois fatores do plano da enunciação: a perspectiva do enunciador e
a orientação dialógico-argumentiva mesmo para interpretar a co-ocorrência de
determinadas formas.
MESA 5 – Estudos linguísticos e variação
O
COMPONENTE FONÉTICO-FONOLÓGICO NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL
E NA PRÁTICA PEDAGÓGICA DO PROFESSOR DE
ESPANHOL
José Ricardo Dordron de Pinho (CPII/SME-RJ/FEUC)
Este trabalho propõe uma discussão acerca das contribuições que os
conhecimentos fonético-fonológicos adquiridos durante a formação dos
professores de Espanhol trazem para alcançar os objetivos do ensino dessa
língua na educação básica. O objetivo maior da formação de professores é a sua
contribuição para a formação da cidadania de seus futuros alunos; porém, há
muito que se discutir sobre essa formação, que corresponde ao primeiro passo do
processo. Sem dúvida, o professor precisa dominar a forma como ensinará a
referida língua; no entanto, também de fundamental importância é o domínio que
terá da mesma. O professor, ainda que domine técnicas avançadas de ensino e
possua muito treinamento metodológico, não pode ensinar o que não sabe. Os
documentos oficiais do país fazem menção à necessidade de uma formação
adequada. Os PCN do Ensino Médio (1999) afirmam que o ensino de línguas
estrangeiras no país não possui o caráter prático que deveria possuir pela
carência de professores com formação linguística e pedagógica. Mais recentemente,
as OCEM (2006), com base em Paiva (2005) e em Almeida Filho (2001), reconhecem
a necessidade de o professor de língua estrangeira ter a competência
linguístico-discursiva da língua que ensinará, que constituirá seu principal
instrumento de trabalho e que representa a competência que tentará desenvolver
em seus alunos, e também a competência profissional. Ao considerar a pronúncia
como uma subdestreza da destreza mais geral denominada expressão oral (Gil
Fernández, 2007), reconhece-se a relevância do componente fonético-fonológico
na formação dos professores de Espanhol. Seu conteúdo deve ser dividido, pelo
menos, em dois momentos durante essa formação: um momento relacionado à
pronúncia propriamente dita e outro relacionado às técnicas de ensino da pronúncia,
a serem desenvolvidos, respectivamente, pelo professor de Fonética e Fonologia
e pelo professor de Prática de Ensino (ainda que possa – e deva – haver
contribuições mútuas). Nenhum professor de Espanhol precisa ser um especialista
em fonética e fonologia, uma vez que ele não vai ensinar fonética e fonologia,
mas pronúncia. Porém, é óbvio que existem certas noções fundamentais que devem
ser do seu conhecimento (Poch Olivé, 2008). Essa questão representa uma grande
proposta de discussão relativa à formação fonético-fonológica do professor: o
estabelecimento dos conhecimentos básicos. Ao se passar para o nível seguinte,
o da prática de ensino, também se observam diversos pontos para discussão sobre
como se abordar o componente fonético-fonológico na prática pedagógica. Nesse
momento, entram em jogo diversas questões relativas às aplicações didáticas,
como as citadas por Gil Fernández (2007): a norma a seguir em sala de aula
(abordagem da norma de pronúncia), a sequência de apresentação dos conteúdos,
se se deve trabalhar primeiramente o nível segmental ou o prosódico, se devem
ser elaborados exercícios especialmente para a prática da pronúncia e se um
único método didático deve ser seguido, entre outras questões. Não se pode
deixar de lado, ainda, o tema da avaliação da pronúncia. Para exemplificar a
complexidade do assunto, consideremos a questão da sequência dos conteúdos:
todo e qualquer conteúdo fonético pode aparecer em qualquer momento de qualquer
nível de ensino; por menos frequente que seja determinado fonema na língua, por
exemplo, motivo que o deixaria para ser trabalhado em um nível mais elevado,
ele pode aparecer nas aulas iniciais do curso básico. Quanto à norma a ser
seguida em sala de aula, o tema é objeto de discussão também em outros níveis linguísticos.
As OCEM se pronunciam a respeito: consideram que o ideal é o professor, quando
nativo, manter a sua variedade e mostrar que existem outras, mas não como
“curiosidades”. O mesmo documento apresenta outro problema: no caso dos
professores não nativos, é provável que sua fala constitua uma mescla de
algumas variedades. O aconselhável, porém, é que o aluno tenha liberdade de
escolha e, sem dúvida, é fundamental que não se crie uma “norma de sala de
aula”, que nunca será ouvida fora desse espaço. Outro item importante é a
realização de um trabalho específico com os sons. Em pesquisa desenvolvida por
Elliott (1997), dois grupos de estudantes foram expostos à língua estrangeira
de maneira oposta: no grupo experimental, trabalhou-se especificamente a pronúncia;
no grupo de controle, não houve nenhuma formação específica sobre a mesma.
Verificou-se, ao término do trabalho, que um ensino voltado diretamente à
pronúncia é benéfico na aquisição da língua, já que favorece a compreensão dos
enunciados e incide sobre o filtro afetivo, o que diminui a sensação de
ansiedade quanto à comunicação oral. No entanto, não é muito comum que se
realize um trabalho específico com os sons. Por fim, cabe comentar o que talvez
represente o maior obstáculo para um estudo mais efetivo de fonética e
fonologia na formação de professores: a pequena presença (ou até mesmo a total
ausência) de atividades orais em sala de aula. Os documentos oficiais até
tratam da possibilidade do trabalho com as habilidades orais: segundo os PCN, convém
desenvolver as quatro habilidades; no entanto, desde que haja condições para
isso. A prioridade é para o texto escrito, por ser a leitura a opção que,
provavelmente, permitirá maior contato com a língua. Mesmo que se possa
desenvolver um trabalho com todas as habilidades, a leitura continuará ocupando
um papel primordial: como se lê no PPP do Colégio Pedro II (2002, 272), “um
trabalho com estruturas discursivas, para o domínio na leitura e certo manejo
tanto na expressão escrita quanto na compreensão e expressão orais”.
FONÉTICA
E FONOLOGIA SEGMENTAL E PROSÓDICA APLICADA AO ENSINO DE E/LE
Maristela da Silva Pinto (UFRRJ)
Segundo Abercrombie (1956), todos os professores de línguas, o
queiram ou não, são foneticistas, pois não é possível ensinar uma língua
estrangeira a nenhum tipo de aluno, sejam quais sejam os objetivos ou o método,
sem dedicar certa atenção à pronúncia. E, certa atenção à pronúncia é fonética.
Indubitavelmente, esse professor de línguas não precisa ser especialista em
fonética ou fonologia, no entanto, deve conhecer o funcionamento dos órgãos
articulatórios e os contornos entonacionais da língua que está ensinando, pois
assim poderá compreender, diagnosticar e “corrigir” a pronúncia de seus alunos.
A partir dessa reflexão, nos dedicamos a (i) descrever atividades de
compreensão e produção oral propostas em uma coleção do Ensino Fundamental;
(ii) confeccionar uma proposta de atividade de compreensão e produção oral;
(iii) aplicar esta atividade com alunos língua espanhola do Ensino Fundamental
de uma Escola Pública do município de Nova Iguaçu/RJ. A proposta de atividade
se baseia em quatro etapas: a da descrição fônica, uma vez que Juana Gil (2005)
defende que todo professor de LE deve conhecer as características fônicas de,
ao menos, a língua que está ensinando, bem como a forma de analisar fonicamente
a produção oral dos aprendizes com fins didáticos, a da percepção, já que Flege
(2002) ressalta a importância do papel da percepção para a produção oral em LE,
a da repetição, pois Álvarez (1993) defende que todos são capazes de escrever
bem desde que pratiquem e nos apropriamos dessa afirmação para a oralidade, e a
da produção calcada na atenção, uma vez que Levelt (1989) defende que a
produção oral requer pelo menos três estágios: conceitualização, formulaçãoe 3)
articulação. No caso da LM, o primeiro estágio requer atenção, já os demais são
automatizados. Por outro lado, no caso da LE, segundo Fortkamp (2008), a
demanda atencional se estende aos três estágios. Os resultados desta investigação
apontam para o fato de que, quando o aprendiz é exposto a esta metodologia por
nós proposta, ou seja, descrição, percepção, repetição mimética e produção oral
calcada na atenção, deixa de produzir as características fônicas e o contorno
entonacional de sua língua materna, passando a produzi-los como os da língua
alvo. Desse modo, acreditamos que essa metodologia promove a competência oral
dos aprendizes e sua fluência em LE.
A
VARIAÇÃO NO CONTEXTO ESCOLAR:
UMA
NECESSIDADE LINGUÍSTICA, CULTURAL, POLÍTICA E CIDADÃ
Viviane Conceição Antunes (UFRRJ)
Há 24 anos, Bentivoglio (1992) e Silva-Corvalán (1992) deram
relevo, em seus estudos, aos rumos da variação e mudança linguística em
espanhol. Especificamente, aquela assinalava, a partir da perspectiva laboviana,
que a variação linguística deveria ocupar-se não só do nível fonológico ou
sintático, mas merecia alcançar o nível do discurso, a fim de esclarecer sua
motivação. Silva-Corvalán (1992), por sua vez, ancorada em uma vertente
ideológica, concebeu como relevantes a compreensão do equilíbrio entre a
heterogeneidade e a estrutura do sistema, bem como da atenção ao marco
pancrônico na análise dos fenômenos das línguas. Acrescentou, portanto, que
seria de grande valia a identificação dos fenômenos de variação que
correspondessem a mudanças em processo, para que se pudesse ter uma noção de
como as variedades da língua espanhola se comportariam futuramente. Em 2006, na
disciplina História dos Discursos sobre a Língua, sob a orientação da Profa.
Dra. Consuelo Alfaro, apresentei um trabalho sobre estes textos, com o objetivo
de lançar um olhar para as peculiaridades da variação sintática em espanhol.
Consuelo Alfaro nos levou a refletir, com mais profundidade, sobre a
importância de se fazer menções cautelosas e claras sobre a variação no
contexto escolar, uma necessidade de cunho linguístico, cultural, político e
cidadão. Com certo grau de emoção, gratidão e homenagem, este trabalho,
pretende recuperar esta reflexão, tomando-a como imprescindível à formação dos estudantes
dos Cursos de Licenciatura em Letras – Português/Espanhol.
VARIAÇÃO,
NORMA E ENSINO DE LÍNGUA ESPANHOLA NO BRASIL
Xoán Carlos Lagares (UFF)
A representação (Petitjean, 2009) mais comum sobre a língua é a de
um objeto relativamente homogêneo e estável. É assim como representa o seu
objeto de estudo a linguística estrutural e como aparece a ideia de língua no
senso comum da maioria dos falantes. O ensino de um idioma estrangeiro
transnacional levanta sempre a questão da abordagem da variação e o problema
sobre qual variedade deveria ser ensinada/aprendida. No caso do espanhol, o
problema se formula de maneira ainda mais complexa por causa da enorme
diversidade de normas (Fanjul, 2011), resultado da multiplicidade de centros
culturais (Malmberg, 1966) com influência na América Latina. Algumas abordagens
do problema insistem em defender a existência de uma norma (padrão?)
internacional de espanhol, aceita pelos falantes cultos de todos os países
hispânicos (Moreno Fernández, 2000), enquanto outras negam que se possa falar
da existência efetiva de uma única norma comum (Moreno Cabrera, 2011).
Discutimos, na nossa apresentação, a noção de língua e de ensino de língua que
coloca a variação como um problema a ser resolvido, assim como a oposição entre
as noções de unidade e de uniformidade linguística e os conceitos de norma a
que elas fazem referência. A unidade da língua seria uma representação social,
intersubjetiva e mutável, que surge precisamente a partir da experiência da
diversidade; enquanto a uniformidade linguística seria realizável apenas na
forma de um modelo artificial, isto é, de um padrão com incidência variável na
realidade social da língua.
MESA 6 – Estudos linguísticos, leitura e tradução
CONTRIBUIÇÕES
DOS ESTUDOS EM COGNIÇÃO
PARA
O ENSINO DA LEITURA EM LÍNGUA ESTRANGEIRA NA ESCOLA BRASILEIRA
Diego da Silva Vargas (UNIRIO)
Tendo em vista o questionamento inicial proposto para este evento
– saberes necessários à formação de docentes de língua espanhola, esta
comunicação pretende traçar um breve panorama (passado, presente e futuro) dos
estudos em cognição voltados para o ensino de línguas e suas atuais e possíveis
aplicações e contribuições ao ensino de língua espanhola no contexto escolar
brasileiro. Sabendo da visão hoje predominante no meio acadêmico que se volta
para discussões sobre o ensino de línguas no Brasil, que considera os estudos
em cognição “restritos”, “meros”, “redutores”, etc., esta apresentação visa a
(1) ampliar o escopo teórico a ser considerado sobre o ensino de línguas,
incluindo a perspectiva cognitivista em união a outras perspectivas já
consagradas, (2) resgatar a importância dos estudos em cognição e ensino de
línguas para o desenvolvimento desse campo de estudos no Brasil, e (3)
atualizar os estudos em cognição, a partir da inclusão de pressupostos
cognitivistas mais recentes, ainda pouco divulgados por aqui. Dessa forma,
parte-se da concepção de que a mente humana elabora e padroniza universos de
experiência enquanto interage com o ambiente externo e com as pessoas que
formam esse ambiente, e que, portanto, a cognição se constrói de forma não
modular, corporificada, intersubjetival, situada e distribuída (FAUCONNIER,
1994; 1999; FAUCONNIER & TURNER, 2002; ITKONEN, 2008; JOHNSON, 1987;
JOHNSON e LAKOFF, 2002; KARMILOFF-SMITH, 1992; LAKOFF, 1987; LAKOFF &
JOHNSON, 1980; SALOMÃO, 1997, 1999; SINHA, 1999a; 1999b; SINHA, & JENSEN DE
LÓPEZ; 2000; TOMASELLO, 2003; TOMASELLO e RACOKZY, 2003; entre outros).
Igualmente, entende-se que o funcionamento da mente sempre ocorre em dois
planos de consciência: o plano base, nível do objeto ou da constituição linear
das coisas, e o plano meta, das suas condições de validação (NELSON e NARENS,
1990), por meio do qual percebemos / conceptualizamos como as coisas devem ser
entendidas em termos situacionais, interacionais, normativos, estruturais,
funcionais, epistêmicos etc. (GERHARDT e VARGAS, 2010). Assim, acreditamos que
seja fundamental o trabalho em sala de aula focado no desenvolvimento de
habilidades metacognitivas (ISRAEL et al., 2005; KORIAT, 2002; METCALFE, 2008)
e metalinguísticas (GOMBERT, 1993). Pretendemos, portanto, apresentar propostas
de trabalho com esses planos, especialmente em relação à leitura,
relacionando-as aos aspectos situacionais que permeiam a sua execução na escola
(GERHARDT, 2006b; GERHARDT, ALBUQUERQUE e SILVA, 2009), e reconhecendo que o
uso de artefatos escolares é um poderoso meio constitutivo da cognição (VARGAS,
2012).
DESENVOLVIMENTO METALINGUÍSTICO E ENSINO DE GRAMÁTICA
Ana Flávia L. M. Gerhardt (UFRJ)
Esta comunicação discute as atividades de gramática realizadas em aulas de português como língua materna e em aulas de língua estrangeira, tomando em perspectiva os fundamentos conceituais relacionados ao desenvolvimento metalinguístico - mais especificamente, ao desenvolvimento metassintático. Para tanto, serão apresentadas as bases teóricas, programáticas e procedimentais que sustentam os conceitos vinculados à compreensão do desenvolvimento metalinguístico, sobretudo trazendo à luz o seu potencial de propiciar estudos e propostas para o ensino de línguas, em especial o ensino de gramática. Essa discussão conceitual se faz acompanhada de reflexões programáticas que podem compor a pesquisa com foco no aperfeiçoamento, através do ensino de línguas, de uma maior autonomia da pessoa, na realização das suas ações de leitura e escrita em qualquer circunstância, através da apropriação de uma reflexão estrutural sobre os materiais de escrita que produz e com os quais tem contato. O que se pretende, em última instância, é evidenciar como o desenvolvimento metalinguístico é uma condição que precisa ser observada na consecução de uma agenda de pesquisa e trabalho didático-pedagógico voltada para a melhoria do ensino de línguas em nosso País. Essa reflexão será acompanhada de propostas de exercícios elaboradas segundo determinações metodológicas vinculadas aos níveis de análise linguística enfocados segundo a sua funcionalidade na construção da escrita, e também segundo uma ordenação específica de ações metalinguísticas, a fim de auxiliar o aluno a construir sua autonomia como usuário da língua, nos parâmetros acima definidos.
O QUE UM
PROFESSOR DE ESPANHOL NO BRASIL DEVE SABER SOBRE CORPUS
Ariel Novodvorski (UFU)
A utilização de programas computacionais, aplicados à análise
linguística e ao armazenamento de dados, vem aumentando velozmente nas últimas
décadas (Berber Sardinha, 2004; Parodi, 2010). A princípio, podemos citar que o
uso de computadores traz benefícios para a investigação de diversos aspectos da
linguagem em uso como a contagem de palavras, a identificação de todas as
ocorrências de um termo, a classificação em ordem de itens listados e a
concordância a partir de um elemento de busca ou nódulo. Contudo, o espectro de
ação supera em muito qualquer uma dessas tarefas, sem contar que sua realização
é feita em poucos segundos, alcançando resultados consistentes e confiáveis. No
âmbito do ensino e aprendizagem de línguas estrangeiras, mais especificamente
no contexto da língua espanhola no Brasil, considero que os recursos e
materiais advindos da Linguística de Corpus trazem benefícios incalculáveis
para estudantes e professores, além de propiciar um ambiente inovador na
aprendizagem dessa língua. Uma abordagem dessa natureza possibilita o
desenvolvimento de um espírito analítico-descritivo nos estudantes, no sentido
de despertar o interesse pela observação detalhada das diferentes formas de
expressão linguística, na construção de significados. Desse modo, são
incorporados à sala de aula “subsídios para a análise dos fatos linguísticos em
suas ocorrências contextuais de uso real da língua” (Novodvorski, 2013).
Algumas das possibilidades de trabalho, por exemplo, podem vincular-se à
descrição e análise de padrões lexicais das palavras, numa perspectiva sintático-semântica.
A minha participação nesta mesa, portanto, sob uma perspectiva funcionalista da
linguagem baseada em corpus, traz alguns recursos que podem ser incorporados
facilmente às práticas do professor de espanhol no Brasil, e que considero fundamentais
para o pleno desenvolvimento da aprendizagem contextualizada.
QUALIDADE
EM TRADUÇÃO:
EM
QUE ESSA DISCUSSÃO PODE INTERESSAR À TRADUÇÃO ESPANHOL-PORTUGUÊS?
Heloísa Pezza Cintrão (USP)
A discussão sobre a possibilidade de avaliação de qualidade da tradução
- talvez especialmente na situação de comparar a qualidade de uma tradução com
outra e sustentar que uma seja "melhor" que outra - é uma questão
abordada por Paulo Henriques Britto, num texto em que subjaz um diálogo
polêmico com Rosemary Arrojo. Em 1977, Juliane House propunha sua primeira
versão de um modelo de avaliação de qualidade de tradução, sustentando haver
nele um considerável grau de objetividade. Trata-se de uma proposta
substancialmente voltada para a comparação com o texto-fonte e fortemente
baseada em categorias linguísticas. Seu modelo teve algumas revisões em anos
posteriores, levando em consideração colocações das abordagens funcionalistas.
Refletir sobre critérios para avaliar a qualidade de uma tradução é uma tarefa
da qual o professor de tradução dificilmente escapa. O grau maior de
transparência entre línguas próximas parece adicionar algumas sutilezas a essa
tarefa, no momento de planejar e avaliar o aproveitamento dos estudantes num
curso de tradução. Discutiremos parâmetros para avaliação de qualidade em
tradução, tendo em vista também esse contexto de formação de tradutores, com
base principalmente em propostas de Halliday (2001) e House (2001) e na ideia
de "pontos ricos" explorada nas pesquisas do grupo Pacte.
MESA 7 – Línguas em contato e multiculturalismo
RECONHECER-SE MÚLTIPLO E APOSTAR NO
DIÁLOGO ENTRE CULTURAS: EIS AÍ A CHAVE PARA SE ENSINAR E SE APRENDER A LÍNGUA
ESTRANGEIRA NA CONTEMPORANEIDADE
Marcia Paraquett (UFBA)
Há muitas maneiras de se discutir o ensino de línguas
estrangeiras, mas estou propondo que o vejamos a partir de duas questões que já
adianto no título desta comunicação: a de reconhecer nossas identidades como
múltiplas e a de entender o ato de ensinar e aprender línguas como interação
cultural. Minha discussão estará pautada em alguns princípios, que pretendo
desenvolver durante minha intervenção, tais como: compreender o espanhol como
uma língua estrangeira [e não primeira ou segunda língua], vendo-o, de certa forma,
como uma variante que precisa ser observada no processo de aprendizagem; reconhecer
que o Brasil tem orientações específicas para o ensino de línguas estrangeiras
na educação básica, onde se percebem preocupações com nossos variados contextos
socioculturais; ressaltar que os contextos multiculturais brasileiros exigem
atenção especial na seleção e condução de material didático; perceber que as
discussões sobre a interculturalidade costumam passar por temas relativos à
imigração ou comunidades minoritárias [ou minoritarizadas], mas na perspectiva que
estou propondo, destaca-se o diálogo que devo estabelecer entre as
manifestações culturais de nosso país e os de língua espanhola; e, finalmente, asseverar
que o modelo de base intercultural não exclui nenhum outro, mas ressalta
aspectos que julgo importantes para nossas sociedades. Para dar conta dessas
questões, sempre apresentadas em forma de questionamentos, preciso ocupar-me
das diferentes maneiras como se está entendendo a interculturalidade no
contexto escolar, opondo-a a uma visão de multiculturalismo a que alguns
autores estão chamando de ‘liberal’. Pretendo ressalvar, também, que a
utilização de produções culturais na sala de aula não pode estar isolada ou distante
de uma concepção de cultura no seu sentido antropológico, pois não se quer entender
cultura no seu aspecto estereotipado, como se fez durante tanto tempo. Como as
entendo, as produções culturais são materialidades de nossas expressões e,
consequentemente, de nossas formas de ser, além de nos permitirem o acesso à
forma de viver e pensar desse outro com quem compartilhamos nossas interações.
Dessa forma, minha pretensão é provocar reflexões que nos levem a definir o
papel do professor como um agente social, capaz de modificar velhas práticas
pedagógicas que ainda estejam distantes de um modelo de sociedade
intercultural.
OS INVISÍVEIS GENOCÍDIOS: O ENSINO DE
LÍNGUAS “EUROPEIAS”
Alain Pascal Kaly (UFRRJ)
A História da humanidade -
entenda-se a história da Europa Ocidental - teve dois grandes momentos que
continuam dominando a periodização do ensino da História em várias partes do
mundo, bem como sua cosmovisão: (a) O
século XV caracteriza-se pela inauguração do processo da modernidade ocidental
que coincide com os “descobrimentos” das Américas com a escravização das populações
indígenas e mais tarde com o início do maior e mais brutal transbordamento de
seres humanos (a escravidão de africanos) da História da Humanidade, assim como
o longo processo confrontos, colonização e invisibilização dos árabo-muçulmanos
pelo mundo euro-ibérico. (b) O século XIX - que inaugura os processos de
formação do estado-nação na Europa com suas características (uma língua, uma
raça, a religião cristã, uma cultura...) dá origem, assim, ao surgimento e à
consolidação das crenças ideológicas da existência das raças e de suas
hierarquias, da pureza, bem como da existência das línguas no mundo civilizado,
em contrapartida aos dialetos exclusivos dos povos bárbaros que precisam ser
civilizados e aprender a falar a Língua e a ter a História. Ensinar a “boa
maneira” de escrever e de falar a Língua não seria um novo tipo de colonização
mental e de desintegração psicológica e psíquica das pessoas não ocidentais? O
brutal processo de ocidentalização via o perfeito domínio da escrita e da fala
da Língua (espanhola, portuguesa, inglesa...) não seria um doloroso processo de
genocídio cometido por doutores de Línguas nas universidades/espaços que priorizam
a conformação à realidade mental colonial e não a formação de cidadãos? O
conivente silêncio dos doutores das contribuições linguísticas e culturais das
sociedades árabo-muçulmanas, das sociedades indígenas e africanas em nome da
pureza e da sacralidade da Língua não estaria transformando os departamentos de
Línguas em novos e sofisticados campos de concentração, propagadores de
genocídios mentais? Até que ponto o grau de domínio da Língua e de sua Escrita
alfabética não condiciona a confiscação da cidadania, passando inclusive a ser
o novo barômetro do grau da Humanidade de uma pessoa ou de um grupo social?
A(S) HISTÓRIA(S) SOBRE AS LÍNGUAS QUE UM PROFESSOR DEVE SABER
José R. Bessa Freire (UERJ / UNIRIO)
O que um professor, especialmente de línguas, deve conhecer sobre as línguas de seu entorno? Destacamos aqui três pontos: o que não sabemos, porque não sabemos e como preencher essa lacuna. Em primeiro lugar, o professor precisa saber que no caso do Brasil, o território que ele e seus alunos hoje habitam, foi povoado por falantes de uma grande diversidade de línguas indígenas, muitas delas desaparecidas, outras ainda resistindo, que deixaram e continuam deixando marcas nas variedades do português, fruto da relação do que a sociolinguística denomina de “línguas em contato”. Em segundo lugar, ele precisa entender porque essa historia é desconhecida, formulando algumas questões: por que os currículos escolares nada informam sobre a trajetória das línguas aqui faladas? Por que a historiografia brasileira, interessada nos aspectos administrativos, políticos e econômicos, não se preocupou com a história social das línguas, nem com a análise de suas funções no processo de interação índios x colonizadores? Por que ignorou as formas de reprodução da língua portuguesa em território brasileiro e como esse vazio foi preenchido por preconceitos e pelo senso comum? Por que afora alguns trabalhos descritivos e lexicográficos, quase nada foi feito ainda de investigação sistemática sobre essas línguas, nem do ponto de vista socio-histórico, nem do ponto de vista linguístico-histórico? Em terceiro lugar, é necessário conhecer as possibilidades do que pode e deve ser pesquisado, a partir da identificação de documentos históricos que existem dispersos nos arquivos do Brasil e do exterior. Trata-se de um campo que o historiador Peter Burke denominou de História Social da Linguagem, cujo foco central incide sobre a história externa das línguas, seus usos, suas funções e que é bastante promissor para a cooperação interdisciplinar. Talvez o conhecimento da diversidade linguística e das razões históricas que expliquem a expansão de umas línguas e o declínio de outras agregue qualidade ao trabalho do professor de línguas.
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